«Todos Te procuram», dizem Pedro e os companheiros a Jesus. Desde sempre
esta premissa esteve no horizonte de pensadores, filósofos e teólogos de todos
os tempos. De muitas formas, com muitos rostos, através da razão ou da
revelação, Deus tem sido, ao longo dos tempos, a maior das questões. Deus pode
não ser uma evidência para alguns, mas não deixa de ser uma pergunta para
todos. Daí que de muitas maneiras a procura de Deus tem sido um desafio
empreendido por tantos. A questão de Deus existirá sempre que persistir a
questão da existência humana e a questão do sentido da vida. A própria Sagrada
Escritura tematiza esta matéria, e disso nos testemunha a liturgia de hoje nas
suas diferentes perspectivas: a figura de Job como paradigma daqueles que
questionam a passividade divina diante do sofrimento (do justo); o apóstolo
Paulo como espelho daqueles para quem a questão de Deus é uma questão fulcral,
enquanto Boa Nova (Evangelho) a ser anunciada; e a multidão que segue Jesus
como representativa da humanidade que só no Senhor pode encontrar a resposta
para os seus problemas.
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Uma das características do Jesus de Marcos é a Sua itinerância. Como
Evangelho do caminho do discípulo por excelência, a aparente incapacidade de
Jesus Se fixar num lugar impele os Seus seguidores (e o leitor) a fazer o mesmo
percurso, a ir atrás, a caminhar com Ele. Ao longo desse trajecto,
contemplam-se não só os milagres, as curas ou as palavras das Suas pregações,
mas também a forma como rezava. Por isso, diante do Evangelho percebemos alguns
traços da pessoa de Jesus, que como cristãos somos chamados a imitar.
A acção pastoral de Jesus
centra-se muito na proximidade. Para Jesus, todos são importantes a Seus olhos.
Dá a sensação que Jesus tinha a capacidade de levar as pessoas a sentirem-se
únicas, mas sobretudo a sentirem-se amadas (nomeadamente quando tantos
marginalizavam aqueles que se aproximavam d’Ele). No entanto, percebe-se que
não obstante a centralidade da pessoa e da sua salvação, Jesus vivia as
relações com absoluta liberdade: ‘fazia o que tinha a fazer’, com naturalidade,
mas tinha a consciência de que havia uma grande multidão a quem a salvação
deveria chegar. A insaciedade diante do número de ‘crentes’ era apanágio da Sua
missão: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de pregar aí
também, porque foi para isso que Eu vim».
Tudo isto fazia Jesus com a máxima discrição
possível, inclusivamente na oração. A insistência nos pedidos de que não
divulgassem a Sua identidade prende-se não só com uma espécie de ‘segredo
messiânico’ que atravessa todo o evangelho de Marcos mas também com o
afastamento do sensacionalismo e do protagonismo que Jesus jamais desejou. Também
a missão da Igreja, enquanto continuação da missão do seu Senhor, deve
caracterizar-se por esta ‘discrição’ própria de quem sabe que o mistério que
torna presente sacramentalmente não vem de si mas de Deus, e por isso não deve
ser autorreferencial. A forma como reza e a sede de procura daqueles que ainda
não encontraram Deus ou vivem o drama do sofrimento deve ser o «título de
glória» da Igreja e de todos os seus ministros (clérigos, religiosos e leigos),
como bem salienta Paulo. O «sonho missionário de chegar a todos», como refere o
Papa Francisco na Evangelii Gaudium,
não pode deixar de constituir para a Igreja de hoje o horizonte máximo da Sua
acção, fazendo-se «tudo para todos, a fim de ganhar alguns a todo o custo». E
tudo isso porque, de forma latente ou evidente, continua a existir uma multidão
que procura Jesus ou que, de um modo menos convencional, persiste em
interrogar-se sobre a questão primordial da existência humana e do sentido da
vida.
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