domingo, 7 de outubro de 2018

A minha reflexão à Liturgia da Palavra de 7 de Outubro


(Esboço da homilia proferida no Pontifício Colégio Português)

Na vida da Igreja subsiste uma tensão permanente entre dois pólos: manter e fazer prevalecer a vontade primordial de Deus e o Seu projeto, ou então aligeirar a exigência do Evangelho por causa da dureza do coração dos homens, propondo um Jesus demasiado light e desprovido da radicalidade que vemos no próprio Evangelho. A este propósito, S. Gregório Magno afirma, dirigindo-se aos pastores de almas: "Muitas vezes os pastores incompetentes, pelo temor de perder a estima dos homens, não se atrevem a dizer livremente a verdade; e deste modo, segundo a palavra da Verdade, não atendem à guarda do rebanho com o zelo de verdadeiros pastores, mas comportam-se como mercenários: fogem ao vir o lobo, refugiando-se no silêncio".

Deste modo, traço três desafios que devemos levar a sério na nossa condição, seja ela sacerdotal, religiosa ou laical.

Em primeiro lugar, somos chamados a conservar o depósito da fé da Igreja. Mesmo nós que temos a missão de aprofundar os conhecimentos teológicos através do estudo, temos apenas o dever de atualizar, nos dias de hoje, sobretudo na linguagem, esse núcleo da fé. Porém, sempre conscientes de que o seu conteúdo não nos pertence. Ninguém está acima da Palavra de Deus, nem mesmo o Papa. Por vezes corremos o risco de manipular a Palavra de Deus a nosso bel-prazer, deturpando o seu sentido para fazê-la corresponder com as nossas perspetivas e convicções, relativizando aqueles versículos que julgamos serem demasiado exigentes para serem integralmente obedecidos. Como diz o profeta Malaquias: "Os lábios do sacerdote são os guardas da ciência, da sua boca se espera a instrução".

Em segundo lugar, não devemos deixar de propor a "pastoral do vínculo", do verdadeiro compromisso e corresponsabilidade. Mesmo que em determinadas circunstâncias se possa refletir sobre a resposta a dar em situações de fragilidade (familiar e conjugal), a opção pela definitividade dos vínculos assumidos deve ser a base fundamental, seja na vida matrimonial, sacerdotal ou religiosa. Isso deve fazer de nós pessoas comprometidas com o projeto de Deus, empenhadas na fidelidade às promessas e votos assumidos, na procura de estarmos inteiros no que somos e no que fazemos.

Por fim, o gesto de Jesus para com a criança mostra como o acolhimento de todos sem exceção (e é preciso contextualizar esse gesto nas práticas vigentes do Império Romano, em que a criança era marginalizada e muitas vezes vítima de ações indignas) significa também instruir e ajudar no crescimento da fé de quem ainda não possui uma compreensão suficiente da mesma. Este acolhimento deve traduzir-se no acompanhamento e na capacidade de se fazer próximo, afetiva e efetivamente, como um pai em relação aos seus filhos. No fundo, a cada um de nós (sacerdote, religioso/a, catequista, pai e mãe de família) é pedida uma verdadeira paternidade/maternidade espiritual, capaz de materializar a proximidade divina para com cada um. 

N.B. - o conteúdo é influenciado por a maioria dos presentes ser sacerdote.

1 comentário:

  1. Muito bela esta reflexão .Parabens !que o Espirito Santo o conduza sempre para um bem maior ( implementar o sonho de Deus para cada um que cruzar o Seu caminho) um abraço

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