terça-feira, 19 de dezembro de 2017

S. José: figura do guardião

(S. José a dormir, imagem favorita do Papa Francisco)

José assume, nas narrativas da Infância, a centralidade no Evangelho de Mateus (ao contrário de Lucas, que foca sobretudo Maria). Isto deve-se ao facto de Mateus escrever para cristãos vindos do Judaísmo, e por isso esforça-se em mostrar como Jesus se insere na linha messiânica de David, da qual José faz parte (daí o recenseamento ser em Belém, a cidade de David). Por isso. José é uma figura insubstituível no tempo final do advento e em todo o tempo do Natal.
A S. José se aplica bem o ditado: «O sonho comanda a vida»; ou então uma frase de Fernando Pessoa: «Deus quer, o homem sonha, a obra nasce». Parece que em José estas duas frases se encaixam de forma perfeita. Primeiro, porque em José foi o sonho a comandar a sua vida, e não as suas ambições e projectos. José é o homem dos sonhos, mas de sonhos que não se tornam pesadelo porque José é um homem «justo», ou seja, santo, temente a Deus. No sonho do anúncio do nascimento de Jesus, no sonho do anúncio da fuga para o Egipto (Mt 2,13-18), no sonho do regresso a Nazaré (Mt 2,19-23), José não se deixa vergar diante das dificuldades, não se deixa alienar nas inseguranças, mas age, de forma muito humana, aos apelos de Deus, seguindo a obediência, mais que a razão ou algum impulso secreto do seu coração. Três sonhos que o desinstalam, mas que não o aprisionam nem atemorizam, que superam a fadiga de não poder viver a paz desejada. Devem ter sido momentos muito desgastantes, mas reconfortantes, pois Deus confiou-lhe um desígnio, um projecto, que ele abraçou, não obstante a a aparente contradição.
José é o homem da fé e da confiança. Em primeiro lugar, distancia-se do acontecimento, reflectindo e amadurecendo a situação inexplicável da gravidez de Maria (repudiar em segredo não significa um qualquer sentimento de ódio, mas de uma compaixão que evita a difamção pública de sua noiva); depois, acredita no sonho como uma revelação (Maria, nisso, teria a vida mais facilitada, pois viveu uma aparição em forma de visão); por fim, relê o sonho à luz da Palavra de Deus e das profecias veterotestamentárias, concretizando as etapas normais de quem tem fé: conhece, escuta, acolhe e compreende a Escritura ou qualquer outra forma de manifestação divina. Este processo fica concluído com a obediência, sem a qual a fé tem ganha dimensão: «quando despertou do sono, José fez como lhe ordenara o Anjo do Senhor».
Neste tempo de preparação próxima para o Natal, S. João torna-se modelo de acolhimento, de alguém que acolhe e protege este tesouro que é dado: o próprio Deus feito Homem (Menino). Assim como Jesus aprendeu de S. José muito daquilo que viria a ser, também hoje acolhemos de S. José as ímpares virtudes que nos transformam em guardiães de Jesus e da Sua Igreja, no silêncio orante e no testemunho de quem se sabe portador de um dom incomensurável.

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