quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Para quê estudar?!


Tenho assistido com particular interesse algumas das novas mudanças parlamentares, nomeadamente no que toca à educação e à cultura (umas que aplaudo, outras nem tanto). Tenho visto igualmente com interesse (e algum sarcasmo) as reacções às decisões governamentais a este respeito. Gostaria aqui de reflectir uma que tocou num ponto ao qual sou bastante sensível: um senhor, cujo nome não divulgo, veio a público dizer que se não houver exames nos anos ditos 'menores' que os alunos não estudam. Fiquei perplexo... não se trata tanto da constatação de uma realidade, mas o que a sustenta: mas afinal o estudo serve para fazer exames?! Para prestar provas?!

Efectivamente, verifico esta realidade: os alunos (ou grande parte deles) andam na escola para passar (de ano)... outros para passar (o tempo)... alguns simplesmente para pass(e)ar...! Creio que todos somos culpados por esta situação. Este texto pretende ser apenas um alerta, para mim e para todos, sobre a forma como andamos a educar as crianças e os jovens.

Será que vale a pena investir num modelo de ensino de tipo 'autoclismo'? Ou seja: vale a pena estudar para depois (literalmente) despejar nos testes e nos exames, mas sem guardar na mente e no coração (sentido etimológico de «de cor») aquilo que se estudou e aprendeu? Será o conhecimento mero pro forma para cumprir a escolaridade obrigatória com os requisitos medianos (para não dizer mínimos)? Será que estamos a educar os nossos jovens para pensar verdadeiramente sobre as coisas, ou limitamo-nos a apresentar fórmulas concretas e objectivas que vão ser decoradas mas nem sempre compreendidas nem tão pouco reflectidas? E aqui apraz-me salientar, com tristeza, o desaparecimento da filosofia como disciplina obrigatória no ensino secundário... Será que o acesso a alguns cursos (e profissões) dependem apenas de uma média quantitativa, quiçá adulterada por outros factores, sem ter em conta a 'vocação', a personalidade e a humanidade dos candidatos?! Por isto pergunto: será que vale a pena estudar? 

Eu continuo a achar que sim, quando acima dos valores quantitativos estiverem os qualitativos (não os resultados mas o que se aprendeu), acima das ambições pessoais o bem comum da sociedade, acima das notas o conhecimento, acima do facilitismo a exigência, acima da mediania a perfeição. Só assim formaremos verdadeiros pensadores, autênticos filósofos (isto é, amigos da sabedoria), que usa o seu conhecimento para melhor pensar a realidade e colaborar para o progresso humano. É um caminho dificil, disso não tenho dúvidas, mas como dizia S. Tomás de Aquino a um estudante: «precisamos de passar do fácil ao difícil». Os grandes homens da história são recordados ainda hoje por terem sido capazes de ir «mais além».

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