segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Para quem tem um verdadeiro amigo... (um hino à amizade)

Dos Sermões de São Gregório de Nazianzo, bispo
(Oratio 43, in laudem Basilii Magni, 15,16-17.19-21: PG 36,514-523)           
(Séc. IV)

Como uma só alma em dois corpos

(...) Este foi o prelúdio de nossa amizade, a centelha que fez surgir a nossa intimidade; assim fomos tocados pelo amor mútuo.
Com o passar do tempo, confessámos um ao outro o nosso desejo: a filosofia era o que almejávamos. Desde então éramos tudo um para o outro; morávamos juntos, fazíamos as refeições à mesma mesa, estávamos sempre de acordo, aspirando aos mesmos ideais e cultivando cada dia mais estreita e firmemente a nossa amizade.
Movia-nos o igual desejo de obter o que há de mais invejável: a ciência. No entanto, não tínhamos inveja um do outro. Ambos lutávamos, não para ver quem tirava o primeiro lugar, mas para cedê-lo ao outro. Cada um considerava como própria a glória do outro.
Parecia que tínhamos uma só alma em dois corpos. E embora não se deva dar crédito àqueles que dizem que tudo se encontra em todas as coisas, ao nosso caso podia-se afirmar que de fato cada um se encontrava no outro e com o outro.
A única tarefa e objetivo de ambos era alcançar a virtude e viver para as esperanças futuras, de tal forma que, mesmo antes de partirmos desta vida, tivéssemos emigrado dela. Nesta perspectiva, organizámos toda a nossa vida e maneira de agir. Deixámo-nos conduzir pelos mandamentos divinos estimulando-nos mutuamente à prática da virtude. E, se não parecer presunção minha dizê-lo, éramos um para o outro regra e modelo para discernir o certo e o errado.
Assim como cada pessoa tem um sobrenome recebido de seus pais ou adquirido de si próprio, isto é, por causa da atividade ou orientação de sua vida, para nós a maior atividade e o maior nome era sermos realmente cristãos e como tal reconhecidos.

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